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sábado, 5 de agosto de 2017

Educação, conflitos religiosos e étnicos no sertão de São Paulo

Educação, conflitos religiosos e étnicos no sertão de São Paulo

Divergências entre protestantes e católicos estão na origem do povoado de Iepê e deixaram marcas na geografia da cidade

O vídeo acima resume, num tom conciliatória, a história da origem da cidade onde “nasci” (na verdade, nasci em Assis, porque em Iepê não tinha hospital em 1974). Ele me foi sugerido pelo pesquisador independente José Carlos Daltozo, que manteve o blog Postais do Mundo em Opera Mundi.

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Como toda história assim contada, podemos perceber nas entrelinhas os confrontos religiosos e étnicos que deram origem à cidade. Ela é muito interessante – começa com a disputa sobre a criação de uma escola – e deixou marcas bastante evidentes na geografia da cidade: a praça da matriz é presbiteriana, por exemplo, apesar de hoje ser uma cidade de imensa maioria católica.
Já pensei em fazer uma pesquisa mais detalhada sobre alguns episódios, como a história do cemitério (em que, se não me trai a memória, há momentos bem mais tensos, como o uso de porcos para violação de covas), mas não tive forças.

Para registro: lembro bem em 1986 que meu pai perguntou a minha avó em quem ela votaria para vereador – ela respondeu algo como “o Carlinhos da Bicicleta”, e meu pai brincou: “A senhora, votando em protestante…” Ela riu bastante, mas riu constrangida, e falou algo como: “Ah, Zeca, não tem mais isso, não”.
A minha família é católica, como se vê, e, no ramo iepeense, de camponeses italianos. Até onde pude compreender, os caboclos da região eram, grosso modo, os protestantes. Não sei se pela pobreza geral ou pela influência estética protestante, havia poucas imagens na casa de minha avó, inclusive de santos. Nas novenas, ela colocava uma vela na sala e um relicário no quarto, sempre discretamente.
Sobre índios aldeados ou semialdeados da cidade, praticamente nada sei. Mas a hoje cidade de Nantes era chamada, ainda na minha infância, de Coroados, que é o nome em português para os Kaingang – que não falam uma língua tupi, da qual teria saído o nome Iepê, mas uma língua do tronco Jê. A companhia de energia se chama Caiuá (Caiowá). Uma empregada da minha família, a Neuza, era de família indígena (acho que Kaingang, mas não tenho como provar) e contava história arrepiantes do mato pra gente.
Se alguém se aventurar em uma pesquisa sobre memória, identidade, conflitos religiosos ou étnicos, resistência indígena etc., acho que vai encontrar material muito interessante.

 

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