Arqueólogos apresentam esqueleto de mulher encontrado no Instituto dos Pretos Novos
Equipe de Arqueólogos encontrou esqueleto de uma mulher em escavação em um dos poços de observação do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN).
Batizada carinhosamente como Josefina Bakhita em homenagem a primeira
santa africana da Igreja Católica, a jovem de aproximadamente 20 anos
morta há dois séculos é o primeiro esqueleto encontrado inteiro no sítio
arqueológico.
Foram
sete meses de escavações coordenadas por Reinaldo Tavares, do Museu
Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em dois metros
quadrados no território conhecido como Cemitério dos Pretos Novos. Na
atual Rua Pedro Ernesto, escravos recém chegados da África que não
resistiam à viagem eram jogados. Isso mesmo, jogados. Dispostos em uma
pilha de corpos, em seguida eram queimados para evitar a propagação do
cheiro dos cadáveres. E depois enterrados um em cima do outro. É o que
os restos mortais encontrados confirmaram.
Esqueleto
da jovem encontrado em poço de observação no IPN entrelaçado ao de
outra pessoa mostra as condições de sepultamento dos pretos novos
Segundo
a arqueóloga Andrea Lessa, além de indícios de carbonização dos ossos, o
fato de terem encontrado uma mulher surpreende, já que apenas 9% dos
negros trazidos em cativeiro para o Brasil eram do sexo feminino. “Não
há padronização na disposição dos corpos. É como um mosaico, indicando
que foram colocados ali simultaneamente sem proteção ou separação. Em
cima de Bakhita, podemos ver a perna de outra pessoa e mais um crânio
sem qualquer cuidado na hora do sepultamento. Se é que podemos chamar
isso de sepultamento”, afirma Lessa.
Desde
que descobriu o sítio arqueológico em janeiro de 1996 na casa vizinha a
que mora até hoje, Merced Guimarães, diretora do IPN, luta pela
proteção e divulgação da história. E desde então imaginava que haveria
corpos mais bem conservados se escavassem mais a fundo. “Tinha um
sentimento de que talvez mais abaixo encontraríamos. Em cima, vemos
fragmentos de ossos. O que era uma suposição agora se confirma: os
corpos mais antigos estão mais embaixo. Me comove e me incomoda. E é por
isso que eu me envolvi na luta para não deixar essa história se
perder”, explica.
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