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domingo, 6 de agosto de 2017

America

A origem da prática de tribo sul-americana de encolher a cabeça de seus inimigos

O "poder espiritual" de uma cabeça encolhida durava apenas um ano
A tribo indígena Shuar, na região amazônica hoje pertencente a Equador e Peru, foi uma das poucas que os conquistadores espanhóis não conseguiram subjugar quando chegaram à América do Sul, no século 16.
Mas não é o espírito aguerrido desses índios que desperta a curiosidade popular e acadêmica. Os Shuar são mais conhecidos pela tradição de encolher cabeças.
Na verdade, embora outras tribos do mundo constumassem decapitar inimigos, os Shuar são uma das únicas comunidades do mundo que a reduziam de tamanho.
A tribo ainda existe, mas o ritual caiu em desuso depois de proibido pelos governos peruano e equatoriano nos anos 50 e 60, respectivamente.
Mas por que os Shuar faziam isso? E que técnica usavam para criar uma tsantsa (o nome que davam às cabeças reuduzidas).

'Vivos depois de mortos'

Um conceito-chave para entender as motivações do Shuar é que eles acreditam na vida depois da morte. Um inimigo morto permanecia vivo dentro de sua cabeça.
Direito de imagem Narayan k28 / Wikipedia
Image caption Tsantsas podem ser encontradas em vários lugares do mundo, pois foram trocadas por objetos com europeus
Eles acreditavam que, ao decapitar e encolher a cabeça do inimigo, o vencedor se apoderava do espírito do vencido.
"A ideia era aprisionar o espírito para evitar que se vingasse da morte do guerreiro vencido", conta Tobias Houlton, antropólogo da Universidade Witwatersrand, em entrevista à BBC Mundo, o serviço da BBC em espanhol.
"O objetivo do encolhimento era escravizar o espírito, não destruí-lo".

Receita de encolhimento

Uma vez cortada a cabeça, os Shuar, retiravam a pele do crânio e depois sacavam olhos, músculos e gordura da cabeça.
Direito de imagem Museu Mutter
Image caption Vedar orifícios era crucial para evitar que o espírito do guerreiro derrotado escapasse
O passo seguinte era fechar orifícios e cozinhar a pele em água de rio em uma cabaça durante meia hora. Mas sem deixar que a água fervesse.
"Se isso acontecesse, havia o risco de que a pele partisse e o cabelo se desprendesse", explica Houlton.
"Quando retiravam a pele da cabaça, ela já tinha encolhido a um terço de seu tamanho original".
Dali, recolocavam a pele no crânio e montavam uma espécie de forno usando pedras e areia quentes. O calor reduzia a cabeça a um quinto de seu tamanho.
Direito de imagem Divulgação
Image caption Processo podia fazer com que cabeça encolhesse para um quinto do tamanho original
Os índios esfregavam cinzas na pele, o que dava uma tonalidade muito mais escura, e decoravam a cabeça com uma série de objetos, de penas a carcaças de besouros e conchas.
"Os orifícios tinham que ficar tapados para evitar que os espíritos fugissem", explica Anna Dhody, curadora do Museu Mütter, na Filadélfia (EUA).
As cabeças ganhavam ainda cordões, para serem usadas como talismãs.

Poder temporário

E todo esse trabalho tinha que ser repetido a cada ano e meio ou dois, pois os Shuaras acreditavam que os talismãs perdiam o efeito após este período.
Os sinais de diminuição de poder do espírito podiam vir de colheitas ruins ou da queda de fertilidade das mulheres da tribo.
"Uma vez que os amuletos perdiam o poder espiritual, os Shuar perdiam todo o o interesse em conservá-las", contou Houlton.
Por isso é que as cabeças, então, eram trocadas em transações com os exploradores europeus.

 

Civilozações antigas

Como foram as buscas pela cidade perdida de El Dorado?

Lenda de cidade sul-americana coberta de pedras preciosas se espalhou ao longo dos séculos e atraiu vários exploradores

access_time 19 jun 2017, 15h46
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O mito do El Dorado, um lugar cheio de ouro e esmeraldas, é a típica história sem pé nem cabeça que foi se transformando ao longo do tempo. Tudo começou em 1536, quando uma expedição liderada pelo conquistador espanhol Gonzalo Jimenez de Quesada avançou pela selva colombiana e travou contato com a nação indígena muísca. Eles teriam um ritual que enlouqueceu os europeus: quando um novo rei era eleito, os muíscas cobriam o futuro soberano com pó de ouro – daí o nome El Dorado, “o dourado” em espanhol. O rei, então, subia numa canoa e jogava pedras e mais pedras preciosas no meio de um lago para agradar aos deuses e garantir um bom reinado.
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A notícia correu entre os espanhóis e, com o tempo, a lenda foi crescendo. O que era a descrição de um ritual virou ora relato sobre um reino, ora sobre uma cidade onde tudo era lotado de ouro e esmeraldas, dos talheres até as ruas. Os muíscas começaram a se fragmentar após os primeiros contatos com os colonizadores espanhóis no século 16. Os últimos vestígios da civilização foram encontrados no século 18.
É quase certo que nunca existiu uma cidade coberta de ouro na América do Sul. Mas a simples possibilidade de haver algo parecido com El Dorado mexeu com imaginação de aventureiros por quase 500 anos. Para ter uma ideia, em pleno século 20, pelo menos três famosos exploradores morreram buscando a cidade, muitas vezes descrita também como o último grande refúgio do Império Inca, onde estariam guardados vários tesouros. Desapareceram nas florestas sul-americanas no século passado o britânico Peter Fawcett (1925), o franco-americano Serge Debru (1970) e, mais recentemente, o norueguês Lars Hafksjold (1997).
Mas as maiores aventuras na busca por essa cidade perdida foram protagonizadas pelos exploradores espanhóis que chegaram à América do Sul no século 16. No mapa abaixo você confere como foram as expedições mais incríveis dessa época e também achados recentes que reacenderam as lendas sobre El Dorado.

PERDIDOS NA SELVA

Expedições espanholas acharam até índias guerreiras, mas nada da cidade dourada
(Sattu, Luiz Iria, Luciano Veronezi e Rodrigo Cunha/Mundo Estranho)
1. Em 1522, o espanhol Gonzalo Jimenez de Quesada iniciou uma expedição no litoral da Colômbia que resultaria na fundação de Bogotá. Durante a aventura, ele enriqueceu pilhando ouro e esmeraldas e foi o primeiro a ter contato com a lenda de El Dorado
2. Quando enfrentou o Império Inca no Equador, o capitão Sebastián de Belalcazar também ouviu de um prisioneiro histórias sobre El Dorado. Ele desertou das tropas espanholas em 1535 e rumou para o norte. Sua aventura terminou, sem ouro nem glória, em Bogotá, recém-fundada por Gonzalo Quesada
3. Também partindo de Quito, outro conquistador, Gonzalo Pizarro, resolveu “só” atravessar os Andes em 1540. Após um ano, ele já havia perdido 3 mil homens… Mais um ano depois e ele retornou a Quito sem achar nada, numa das expedições mais desastradas em busca do El Dorado
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4. Francisco de Orellana pertencia à expedição de Gonzalo Pizarro, mas ele e cerca de 50 homens se perderam do grupo principal em 1541. E bota se perder nisso: navegando numa jangada, Orellana foi parar no rio Amazonas!
5. Seguindo a corrente do enorme rio, Orellana passou por poucas e boas. Segundo seus relatos, ele teria até lutado contra tribos de índios lideradas por mulheres, como as temíveis amazonas da mitologia grega. O explorador chegou ao litoral do Pará em 1542 e dali subiu até a Venezuela. Sem achar a cidade dourada, é claro
6. O mesmo Gonzalo Quesada que iniciou a busca por El Dorado também organizou uma das últimas grandes expedições espanholas. Em 1569, já com 60 anos de idade, ele saiu de Bogotá com cerca de 2 mil homens rumo à selva. Voltou, três anos depois, com apenas 70 soldados e com quase toda a sua fortuna perdida…